Entrevista – Como é trabalhar na área de Design?
É com um enorme contentamento que hoje trago uma das profissionais da área de tecnologia que mais admiro, Mariana Rita. Trabalhamos há algum tempo na mesma empresa (Doutor Finanças) e não é nenhum segredo este meu fascínio por esta minha amiga e colega de trabalho. Desde que entrou na empresa se destacou não só pelo seu carisma, proatividade mas também pela postura, engenho e seu exímio trabalho. Profissional na área de design, especialista em UX e UI, professora de Design e Desenvolvimento Web na Escola Superior de Comunicação Social, veio hoje me ajudar no meu blog numa conversa informal sobre o que ela faz e inspirar outros a embarcarem nesta área fantástica. let’s start!
“I don’t know where I’m going from here but I promise it won’t be boring”
DAVID BOWIE
Quem é a Mariana Rita?
Nunca sei responder a esta pergunta 😅 A minha tendência é virar a resposta para o campo profissional, tenho dificuldade em falar sobre a minha pessoa além do trabalho. Acho que sou uma pessoa muito peculiar, tanto na minha forma de estar, como de ser, como de pensar. A verdade é que aquilo que ponho no meu trabalho vem da minha forma de estar na vida. Sou uma pessoa naturalmente organizada e metódica (desde que me lembro). A minha mãe conta-me que a minha forma de brincar com os Legos, em criança, era tirá-los da caixa para os voltar a arrumar direitinhos (infância de sonho, certo?). Gosto genuinamente de trabalhar e de produzir coisas; não sou capaz de estar muito tempo sem fazer nada.
Quando foi que percebeu que queria ser web designer?
Acho que nunca percebi que quis ser designer. Foi uma coisa que aconteceu naturalmente. Não me lembro de ter havido um momento em que pensei “é isto que quero fazer!”, porque até hoje, trabalhando na área, não sei se é exactamente nestas funções que me imagino o resto da vida. O gosto pelo design surgiu na faculdade, no curso de licenciatura em Audiovisual e Multimédia na ESCS (onde lecciono agora). Fui para o curso a pensar que me iria especializar em 3D e acabei por me dedicar ao design. Depois de ter tido duas ou três cadeiras de design percebi que era o que mais me motivava na curso e o que fluía mais naturalmente. Ao longo do curso, o gosto começou pelos projectos de branding e foi migrando para o web design, à medida que ia tendo cadeiras de programação de web/multimedia design. Agora que penso nisto, o design para mim faz sentido porque é uma forma de organizar o mundo. Organizamos através das cores, das formas e da tipografia.
Sendo eu uma pessoa organizada e que gosta de organização, gosto também de organizar o mundo que me rodeia através do design. Entretanto, depois de ter tido uma cadeira chamada “Psicossociologia do Utilizador”, percebi que o design fazia ainda mais sentido para mim se fosse virado para o utilizador. Foi então que percebi que UX design era mais a minha praia. Se fazemos o design de uma interface (por exemplo) sem pensarmos no utilizador que a vai utilizar, então nem vale tentar.
O que faz o profissional de Design?
Numa perspectiva mais abstracta, um profissional de design (gráfico), acima de tudo, comunica. A meu ver, o objectivo deste design a que nos estamos a referir é sempre comunicar algo. Quer seja design gráfico, design de comunicação, design multimédia, design de interfaces, …, o propósito é comunicar algo para a pessoa que vai recepcionar o produto do design.
A comunicação acontece quer estejamos a desenhar um logótipo que representa a identidade da marca, quer estejamos a fazer um cartaz com informação para um público, quer estejamos a desenhar uma interface que vai ser utilizada por uma pessoa.
Numa perspectiva mais concreta, mais prática, um profissional de design desenha, desenhos estes que podem ser vectoriais, raster, à mão, o que for. No entanto, é um bocadinho mais complexo do que desenhar apenas. A etapa do desenho acontece a meio do processo de design. Fazer o design de qualquer produto/peça envolve sempre investigação prévia e definição de conceitos. O que significa isto em termos práticos? Um designer não faz apenas um logótipo para uma marca (por exemplo). Antes de sequer começar a esboçar o logótipo, há todo um trabalho teórico por detrás. Primeiro investigamos – vemos referências, fazemos benchmarking , vemos o que está a ser feito, o que já foi feito, o que funcionou no passado, vemos como é que outras pessoas resolveram problemas de comunicação semelhantes.
Depois, com base na pesquisa e investigação, define-se o que queremos comunicar. No caso de estarmos a fazer um logótipo, é preciso definirmos ao certo como queremos comunicar com base na identidade da marca – quais são os valores da marca? a sua missão? o que representa? qual o seu posicionamento? para que público comunica? como quer ser vista no mercado? qual a sua personalidade? o seu tom de comunicação? (e poderia continuar com muitas mais perguntas). Só depois de pensarmos nisto tudo é que começa a fase de esboços e de testes. Para os mais curiosos, espreitem o double diamond ou o design thinking. Resumindo, o papel do designer não é apenas o de executar e desenhar, mas também o de pensar o que (e como) vai comunicar através do desenho.
Quais tecnologias ou ferramentas se usam nessa área?
O caderno e o lápis são o melhor amigo do designer – quer seja para desenhar efectivamente, quer seja para planear e pensar. São muito usados os softwares de desenho vectorial ou de prototipagem, como o Adobe Illustrator, o Adobe XD, o Figma e o Sketch (são os mais conhecidos). Ferramentas de organização de projecto e planeamento também são muito úteis, como o Trello e o Milanote. Para a fase de investigação, plataformas como o Behance, o Dribbble e o Pinterest são muito úteis para recolha de referências.
Qual a sua linguagem de programação favorita e por que?
Não tenho uma linguagem de programação favorita 🙂 especialmente porque trabalho sobretudo com HTML e CSS e nenhuma é considerada linguagem de programação. No entanto, gosto particularmente de utilizar Sass ou Scss pela estratégia que requer para escrever tudo de forma eficiente.
Quanto tempo demora para se tornar um profissional nesta área?
Depende muito de pessoa para pessoa. Um bom designer tem uma cultura visual muito rica. Isto significa que depende muito do background da pessoa e da sua sensibilidade para a vertente visual. Há pessoas com maior “aptidão” à partida do que outras, por isso o tempo para se tornar um profissional varia de pessoa para pessoa. Além disto, varia também sempre conforme o empenho e interesse de cada um.
Qual acha que será a tendência desta área no futuro?
A minha opinião (que vale o que vale) é que as empresas vão apostar cada vez mais no UX design. Esta área do design é algo que traz valor às marcas e à relação com os seus clientes. Creio que há uma valorização crescente no papel do UI/UX designer e do UI/UX developer e que, no futuro, haverá maior procura por estes profissionais.
Gosta do que faz?
Adoro o que faço. Adoro o processo de concretizar um projecto do início ao fim. Gosto do pensar, gosto da materialização do pensar em algo palpável e visível – a peça de design em si -, gosto de ver o projecto terminado no fim e da sensação de propósito alcançado. Gosto especialmente quando sei que o que estou a fazer vai facilitar a vida de alguém . E, relativamente ao dar aulas, gosto muito de transmitir tudo isto para os meus alunos.
Qual dica você daria para quem está começando nesta área?
Pesquisem muito, vejam outros trabalhos, vão ver exposições, vejam o que está a ser feito na área pelos melhores. Leiam muito, investiguem, procurem sempre aprofundar os vossos conhecimentos. Analisem os trabalhos que fizeram, entendam o que podem melhorar neles e aplicar no futuro. Ser designer não é estanque, temos sempre margem para aprender, para mudar para melhor, para crescer e tornarmos-nos melhores profissionais e comunicadores. Procurem sempre melhorar.
Alguma outra pergunta que gostaria de responder?
Sim! Pergunta: “Já conseguiste explicar à tua avó o que fazes profissionalmente?” Não! Ela ainda não faz ideia do que eu faço, mas fica muito feliz por eu estar feliz 🙂